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Roldeck.

Júlio Roldão

03.11.2019 08h08mn

No Pueblo de Combarro

No Pueblo de Combarro, um dos mais belos da Galiza, cada um dos seus muitos espigueiros é uma pequena capela de pedra sobre a ria. As rias são braços do Oceano Atlântico que entraram por leitos de rios, ocupando-os e temperando-os com água salgada. Às vezes, estes rios de mar são largos o suficiente para ter ilhas, como a da Toxa, famosa pela capela do século XII, toda coberta de conchas de vieira, e pelos sabonetes com o nome da ilha, um dos “luxos” que os portugueses que visitavam a Galiza em meados do século passado levavam para Portugal como prova da rara viagem turística.

03.11.2019 07h38mn

Na estrada sobre rias baixas

Limite de velocidade 80 km/h. Abertura 1.7. Tempo de exposição 1/375. ISO 100.

02.11.2019 07h11mn

No Hotel Chamuiñas, em Buezas

Em Buezas, Sanxenxo, há uma gaivota e um gaivoto que têm nome próprio. A gaivota, ou melhor, a gaviota, em Castelhano, chama-se Chavela e o gavioto Francisco. Foram baptizados por Dona Fátima, uma equatoriana que gere o Hotel Chamuiñas, de Buezas, Sanxenxo, Hotel de duas estrelas que se recomenda desde logo pela forma como Dona Fátima recebe os hóspedes.

Duas estrelas não. Quatro estrelas que a gaviota Chavela e o gavioto Francisco também são estrelas e contam. Dona Fátima, assim chamada por ter sido encomendada à Senhora de Fátima na hora em que estava a nascer, no Equador, num parto muito difícil que a mais velha parteira virtuosa da aldeia chegou a temer, Dona Fátima fala com a gaviota Chavela e diz ser compreendida por ela.

E também diz que ela namora com o gavioto Francisco, numa inconfidência aparentemente documentada em vídeo que passa, entusiasmada, aos hóspedes enquanto os regista à chegada ao hotel. No vídeo, duas gaivotas, duas gaviotas, ou uma gaviota e um gavioto, defendem a comida que Dona Fátima lhes dá, de repente cobiçada por um bando de gaivotas sem nome que apareceram sabe-se lá de onde.

01.11.2019 20h44mn

No dia de alguns santos

No dia de todos os santos, ou melhor, no dia de alguns santos, fugi para a Galiza. Sanxenxo. Que lugar encantador, tão a Norte! Desconfio que Sanxenxo tem traços do Mediterrâneo, mas eu continuo fiel aos rótulos de vinhos bebidos com os amigos. São tão mais fáceis de aguarelar e acresce que ainda não bebi o espírito deste lugar tão tarde por mim descoberto. No dia de alguns santos deixei-me diabolizar um pouco. Diabolizar talvez seja um exagero.

31.10.2019 08h45mn

No ponto do nevoeiro

No nevoeiro do bairro operário, onde as fachadas das casas não são para preservar, uma máquina sinistra vai destelhando uns "ocupas" ali a tentar morar. Chamava-se do Leal e já foi um bairro tal com centenas de pessoas, talvez mesmo um milhar - gente que foi deslocada dali para outro lugar. Dava para a Bonjardim e parece que 'inda dá. Dizem que vai renascer numa grande superficie. Talvez mesmo num hotel, que o Turismo está a dar. Assim envelhece o Porto. Morto ponto, Porto ponto. Ponto com e ponto org, ou pior, ponto pt.

30.10.2019 12h12mn

Numa folha de estatísticas

Hoje recebi uma advertência por escrito da delegação do Centro de Emprego onde estou inscrito por uma falta injustificada a uma reunião para a qual não deveria ter sido convocado, conforme fui alertar aqueles serviços antes da realização da referida reunião. Na advertência escrita, lembram-me que um segundo incumprimento injustificado aos meus deveres perante o Instituto de Emprego e Formação Profissional determinará, entre outros castigos, a cessação do direito às prestações de desemprego, benefício que, no meu caso, terminou há mais de meio ano. A meio ano de atingir a idade para a reforma sem penalizações (66 anos e 5 meses), fui convocado para uma reunião que iria perspectivar uma potencial formação profissional, reunião igual a uma outra, antes realizada, à qual compareci para apenas entregar, como solicitado, currículo e comprovativo de habilitações, documentos de novo requeridos para a reunião que, agora, gerou a advertência recebida. Como desempregado, sou apenas um número potencialmente útil para certas estatísticas.

29.10.2019 12h30mn

No mais e no menos

Agora tenho mais tempo
- até para a Poesia.
Mas vivo mais assustado
do que o gato abandonado
que trouxeram noutro dia.

Vivo bem mais assustado
e muito menos mimado.

Júlio Roldão
29.10. 2019

28.10.2019 22h41mn

Nos corredores da morte

Vagueio, desde ontem, por vários corredores onde, virtualmente, estou morto. Na verdade, já morri embora haja quem pense que ainda estou vivo. Foi ontem, definitivamente. Mas, como é sabido, os humanos resistem e demoram eternidades a morrer. Para desespero de alguns, às vezes dos próprios. Hoje, por exemplo, numa dessas fugas pelos corredores da morte, comprei um catálogo (20 páginas) de uma exposição que o escultor Alberto Carneiro levou, em 1993, à portuense Galeria Pedro Oliveira, então já no n.º 3 da Calçada de Monchique. O catálogo, que, à época seria oferecido, custou-me, ontem, num alfarrabista, cinco euros, ou seja mil escudos na moeda vigente em 1993.

28.10.2019 11h16mn

Na Estrada Nacional n.º 2

Isto está muito pesado. O meu castelo, abusiva e ilegitimamente ocupado, é agora, para mim, um transitório lugar de exílio. De momento, sou apenas empurrado para os cantos mas a ameaça velada de uma violenta expulsão faz-se sentir. Eis o mote para o primeiro primeiro dia do resto da minha vida.

18.09.2019 11h47mn

No 80º aniversário de Jorge Sampaio

No meu meu mural do Facebook publiquei ontem uma imagem captada em Julho de 1999 durante a visita do presidente Jorge Sampaio, que hoje completa 80 anos, ao Arquipélago dos Açores. Acompanhei, como jornalista, esta viagem do presidente Sampaio e hoje posso dizer que proporcionou-me uma das mais agradáveis reportagens de todas quantas assinei, durante 28 anos, no Jornal de Notícias. Nesta imagem do arquivo da Presidência da República (Código de referência PT/PR/AHPR/GB/GB0202/GB020202/4608/003), identifico o aniversariante, o juiz conselheiro jubilado Alberto Sampaio da Nóvoa, então Ministro da República na Região Autónoma dos Açores, a então jornalista Carmo Rodeia, de óculos escuros, e eu, de bigode, suspensórios e colete.