30.12.2017 12h00mn
No Museu da Minha Existência
Estou olhando aquela radiografia, da capa do Notícias, evocativa do cinquentenário da morte de Fernando Pessoa. É, de todas as capas do JN do período em que lá trabalhei como jornalista, ou seja de 1977 a 2005, a minha capa preferida. Ostenta, de alto a baixo, um desenho de Fernando Pessoa sentado numa cadeira a ler um jornal claramente de formato broadsheet, desenho que Júlio Pomar fixou a traços largos e rápidos. Na verdade, a radiografia não é uma radiografia mas sim um fotolito (o que imprimiu a capa, que foi impressa a duas cores, a preto) e eu limito-me a fingir que estou a olhar para aquela película, que na foto aparece dobrada, com o cuidado que um médico porá quando observa uma radiografia de um doente. Esta encenação, montada para a fotografia, ocorreu quando já não trabalhava no Jornal de Notícias mas ainda usava suspensórios. Não sei há quanto tempo teria saído do jornal, mas sei que o jornal ainda não tinha saído de mim. Se é que algum dia acabará por sair. O fotolito, que eu resgatei do lixo, o destino habitual dos fotolitos, está exposto, algures, numa das paredes do Museu da Minha Existência.
