12.11.2023 17h00mn
Na Universidade, há 52 anos
Há 52 anos, quando nem sonhávamos com a internet e com os telemóveis, eu vivia em Coimbra, acabado de chegar à Universidade, há 52 anos, no dia 12 de Novembro de 1971, eu escrevi uma carta para os meus pais, a primeira que lhes escrevi de Coimbra.
A carta foi arquivada nos papéis que os meus pais quiseram guardar, papéis que eu viria a herdar e a juntar aos papéis que eu próprio também, entretanto, comecei a arquivar. Por uma daquelas coincidências que gostamos de sublinhar, apareceu-me hoje, dia 12 de Novembro de 2023.
11.11.2023 17h30mn
Na AJHLP a redescobrir Poesia
Hoje, na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP), a ouvir os segredos da oficina de criação poética de Raquel Patriarca. Bibliotecária, historiadora e contadora de histórias foi fotografada e desenhada por mim durante a sessão em que foi a protagonista. Estes auto-retratos de poetas enquanto jovens é uma boa iniciativa da AJHLP.
11.11.2023 09h57mn
No meu sonho mais recente
Em sonho por mim sonhado
intensa e recentemente
sonhei-me um adolescente,
sem carta de condução
a conduzir um carrão,
um Testarossa roubado
na zona de aparcamento
de um hotel de cinco estrelas
construído aqui ao lado.
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Júlio Roldão
03.11.2023 11h28mn
No meio de mais papéis
02.11.2023 10h08mn
No regresso à publicidade
As noites 100% publicidade eram noites sem dormir, vulgo "diretas", a ver filmes de anúncios que eram pequeníssimas e pequenas metragens com a qualidade do bom cinema. A Norte, tinham lugar nas instalações da Exponor, em Matosinhos, num "festival" sempre muito concorrido. A última noite 100% publicidade a que assisti aconteceu há mais de vinte anos, mas a t-shirt que era oferecida a todos os visitantes ainda resiste mesmo tendo sido transformada em pijama.
31.10.2023 16h56mn
Nas páginas de um jornal
Está a fazer oito anos, foi a 1 de Novembro de 2015, que o jornalista César Príncipe, numa intervenção proferida em Coimbra num almoço de trabalhadores e antigos trabalhadores do Jornal de Notícias, disse que já ninguém, exceptuando alguns accionistas, alguns banqueiros e alguns governantes, refere um qualquer título da Imprensa escrita com o sentimento de posse que se traduz na expressão "o meu jornal". À data, esta verdade não era tão visível como é hoje.
31.10.2023 11h02mn
Na Rua do Bonjardim
A sair de cena
sou muito desajeitado.
Não decoro as deixas
e perco-me em longas brancas
que geram silêncios
cheios de incomodidades.
Lendo a didascália da minha fala,
leio que chegou a hora
de sair de cena
pela esquerda baixa
e que o pano já caiu.
Júlio Roldão
31 |10 |2023
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Da série "Poemas com 11 versos"
29.10.2023 19h43mn
No regresso a casa
A companhia aérea que melhor tem servido as minhas necessidades em matéria de viagens pela Europa é uma companhia de preços baixos cujo logotipo estiliza uma carranca de um famoso navio irlandês. Como passageiro em voos comerciais há mais de meio século considero-me um verdadeiro passageiro frequente desta companhia.
02.03.2023 15h15mn
No IPO do Porto
A minha última valsa
No segundo dia
do terceiro mês
vinte vinte e três
fui fazer a PET
lá no IPO do Porto.
Ponto Porto, ponto morto.
Porto morto, Porto ponto,
morto ponto, morto Porto
numa lenga lenga
que não se repete.
Dó, Ré, Mi Dó, Ré, Mi
Dó, Ré, Mi, Fá, Si
Ré
Ré, Mi, Fá
Ré, Mi, Fá
Sol, Fá, Mi, Ré, Dó.
Sem os tempos certos
e com as notas trocadas.
Assim como assim
eu nem sequer sei dançar.
Júlio Roldão
01.03.2023 09h00mn
No meu deserto
Quem chega a um dos desertos da Terra e do percurso de cada um, esses lugares sem sombras que não as que os homens projectam, lugares inóspitos onde só resiste vida com a força de uma Welwitschia Mirabilis (a planta que nasce no Namibe sob o nome popular de "polvo do deserto"), quem se faz a essa travessia acreditando que uma única tâmara poderá ser suficiente para aguentar três dias e três noites, está longe de imaginar o que será naufragar à vista de uma praia da margem direita do Mediterrâneo quando a esperança parece já tão perto.
Uma vez, numa peça de teatro, naufraguei improvisando o papel de patrão de costa de uma pequena embarcação que se tinha feito ao mar sobrelotada de passageiros que apostavam tudo nessa viagem para fugir de terrores e de misérias que só adivinhamos nos relatos pobres e insuficientes de alguns jornalistas em certos telejornais.
Numa das indicações de cena dessa peça de teatro, numa das chamadas didascálias, lia-se que os náufragos eram pessoas como nós "em busca um sítio melhor onde fosse possível viver e não apenas sobreviver". Quanto a mim, actor disponível a repetir, todas as doces noites, essa cena do naufrágio, limitava-me, pela repetição inerente ao Teatro, a "resistir à dureza da minha vida real" e a atravessar os meus desertos imaginários.
Eu que tenho entrado e saído de Itália tantas vezes, incluindo durante o tempo da pandemia da Covid'19 (ultimamente de visita a um filho e à respectiva família, entretanto alargada a mais um neto), eu já não sei se consigo indignar-me com as notícias que nos chegam de náufragos que morrem, também em praias italianas, por não entrarem nas quotas que impomos como limite de lotação concedida aos outros.
Perco-me, na relatividade das nossas vidas, a atravessar este meu recente indesejado deserto e a lamuriar a minha própria sombra, deserto e sombra só agora identificados. Agora que vou para velho e tenho nos bolsos várias tâmaras e esta imensa pena de mim.